29 E 30 DE OUTUBRO | FIESP | SÃO PAULO-SP

Trabalho do futuro exige mudança de mindset

26/09/2025

O trabalho do futuro já chegou e traz impactos urgentes para profissionais e empresas. A transformação tecnológica, liderada pela Inteligência Artificial, redefine tarefas e carreiras. Para Michelle Schneider, preparar-se para este cenário depende de mudança de mentalidade, novas habilidades e qualidade de vida, pautada na saúde física e mental.

 

O futuro começa agora

O trabalho do futuro é tema que deixou de ser projeção para se tornar urgência. Para Michelle Schneider, sócia da consultoria Signal & Cipher, docente convidada na Singularity University e ex-executiva de empresas como Google, LinkedIn e TikTok, é hora de agir. “Estamos diante de mudanças profundas, que exigem revisão do modo como pensamos as carreiras e os negócios”, afirma a especialista, que fará a palestra de encerramento do Congresso Internacional Abit 2025, no dia 30 de outubro.

 

Inteligência Artificial como divisor de águas

O avanço da Inteligência Artificial ocupa o centro dessa transformação. Se antes apenas tarefas repetitivas estavam sob risco, hoje até a criatividade é desafiada pela IA generativa, capaz de produzir música, imagens, textos e códigos de programação. “Nenhuma área ficará imune. O que vemos é que a IA não substitui apenas empregos, mas tarefas – e isso exige um olhar mais refinado para o que realmente compõe o nosso trabalho”, explica Michelle.

 

Colaboração homem-máquina

Na visão da especialista, a tecnologia deve ser vista como parceira, não inimiga. “Trabalhar em conjunto com a IA significa ampliar a produtividade. Quem aprende a usá-la sai na frente. O risco maior não é ser substituído pela máquina, mas por outro humano que saiba manejá-la melhor.”

 

Entre empregos e tarefas

A tendência imediata, lembra Michelle, é imaginar os empregos que desaparecerão. Mas a chave da reflexão está na diferença entre tarefa e função. “O caixa de supermercado executa duas tarefas básicas: registrar o preço e cobrar. Se a IA faz isso, o emprego deixa de existir. Mas em muitas áreas, ainda veremos o humano trabalhando em colaboração com a tecnologia.”

 

Habilidades em transformação

Um dos principais pontos destacados pela especialista é a mudança no conjunto de competências mais valorizadas. Se em 2018 as chamadas soft skills eram unanimidade, o Fórum Econômico Mundial já aponta, para 2025 e 2030, um crescimento das habilidades técnicas ligadas ao letramento tecnológico, como IA, big data e cibersegurança.

 

Quatro pilares para o profissional do futuro

No livro em que analisa estas transformações, Michelle propõe quatro pilares de desenvolvimento. O primeiro é a “mente inovadora”, sustentada por curiosidade, aprendizado contínuo e criatividade. O segundo é o “letramento tecnológico”, que envolve domínio das ferramentas digitais. O terceiro é a “inteligência emocional”, com foco em empatia, escuta ativa e autoconhecimento. O quarto é a “saúde mental”, entendida como condição essencial para desempenho sustentável.

 

O peso da saúde física e mental

Michelle fala com propriedade sobre esse último pilar. Após enfrentar quatro cirurgias em dois anos, além de crises de ansiedade e insônia, percebeu o impacto direto da saúde mental no desempenho. “Mesmo resolvida fisicamente, não conseguia performar. Ficou claro que sem equilíbrio emocional não é possível ser o profissional do futuro.”

 

Um desafio coletivo

Os números confirmam a gravidade do tema. O Brasil lidera o ranking mundial de ansiedade e ocupa a segunda posição em casos de burnout. “A preparação para o futuro exige também cuidar da mente. Só assim teremos condições de enfrentar os desafios de um mercado em transformação”, reforça.

 

Ambidestria profissional e corporativa

Outro conceito defendido por Michelle é o da “ambidestria”. No mundo corporativo, significa equilibrar resultados atuais com investimentos no futuro. Nas carreiras, envolve dedicar tempo e energia não apenas às demandas diárias, mas também ao desenvolvimento das competências que serão exigidas adiante.

 

A indústria da moda na berlinda

Setor diretamente impactado pela digitalização e pelo e-commerce, a moda é um laboratório do trabalho do futuro. “As empresas centenárias precisam se reinventar, assim como os novos empreendedores. Escolas e profissionais devem incorporar a IA tanto na gestão quanto na criação. É uma mudança de mindset”, observa.

 

Preparação em todas as frentes

A transição exige que empresas e indivíduos se preparem simultaneamente. Líderes precisam repensar não apenas suas organizações, mas também suas próprias carreiras. “É um exercício de olhar para o presente e para o que está por vir”, frisa Michelle.

 

A urgência do aprendizado contínuo

Segundo a especialista, a curiosidade e o desejo de aprender são diferenciais decisivos. “Não podemos esperar contornos definidos desse futuro. Precisamos agir já, acompanhando os sinais que surgem, experimentando, testando e ajustando.”

 

Entre o medo e a oportunidade

Embora os cenários levantem dúvidas e incertezas, Michelle ressalta que a transformação pode abrir novos caminhos. “A sensação de impotência diante das mudanças é real, mas também temos autonomia para construir o nosso papel nesse futuro.”

 

Um novo contrato profissional

Se antes o sucesso se apoiava quase exclusivamente em cursos, certificados e habilidades técnicas, hoje o contrato implícito entre profissionais e mercado passa a incluir competências socioemocionais, consciência ambiental e flexibilidade.

 

O futuro em construção

Para Michelle, o trabalho do futuro não está distante: ele já está sendo moldado agora. “É tempo de refletir, experimentar e preparar-se. Mais do que nunca, precisamos de uma mudança de mentalidade para atravessar essa transição com preparo, rumo à inovação”.

 

Michele Schneider