Tecnologia, dados e colaboração: motores da nova indústria da moda
31/07/2025
Executivos destacam o papel estratégico da inovação, da inteligência artificial e da integração entre marcas, indústria e tecnologia para transformar o setor têxtil e de confecção.
Matheus Diogo Fagundes (Audaces), Tony Pinville (Heuritech/Luxurynsight) e António Rocha (Smartex) são os convidados da Abit para integrar o Painel 1 do Congresso Internacional Abit 2025, que tem como tema Inovações Tecnológicas na Indústria T&C. O debate ocorre no dia 29 de outubro, abrindo o evento sediado na Fiesp, em São Paulo.
Ao longo da discussão, os três executivos tecem comentários e ilustram com evidências os caminhos que hoje conduzem a indústria em direção à excelência e à competitividade. Para isto, abordam o uso estratégico da inteligência artificial, da automação e de dados, o que pode aumentar a eficiência, reduzir o desperdício e impulsionar a sustentabilidade na cadeia têxtil.
A seguir, cada um dos convidados traz elementos para uma prévia reflexão de pontos que serão detalhadamente abordados durante o painel.
IA e sustentabilidade redefinem o futuro da moda
Para o empresário francês Tony Pinville, cofundador da Heuritech e sócio da Luxurynsight, o futuro da moda passa inevitavelmente pelo uso estratégico da inteligência artificial. Ele frisa que a IA tem o poder de transformar toda a cadeia de valor do setor, do design à gestão do varejo, com impacto direto na sustentabilidade e na rentabilidade das marcas. “Ao impulsionar decisões mais inteligentes, a IA pode ajudar a reduzir drasticamente o desperdício, melhorar a lucratividade e, ao mesmo tempo, diminuir a pegada ambiental”, afirma. Pinville lembra que o grande vilão da moda ainda é a superprodução: “Só em 2023, entre 2,5 e 5 bilhões de peças foram produzidas em excesso, resultando em até US$ 140 bilhões em perdas para o setor, segundo a McKinsey”.

O executivo aponta que a raiz do problema está na dificuldade de entender profundamente o consumidor. Para ele, tecnologias como a desenvolvida pela Heuritech podem mudar esse cenário. “Ao quantificar e prever com precisão o que as pessoas realmente usarão, conseguimos orientar marcas a apostarem nas cores, estampas e formatos certos, evitando tendências em declínio”, explica. A IA, segundo ele, também permite otimizar sortimentos e decisões de compra em diferentes mercados, identificar produtos de risco com antecedência e alinhar os estoques com a demanda real. “A sustentabilidade deixa de ser um desafio e passa a ser uma vantagem competitiva”, conclui.
Tecnologia e moda: eficiência sob medida
Para a Audaces, empresa de tecnologia que atua no núcleo da indústria têxtil e da confecção, a inovação, além de diferencial competitivo, tornou-se forte e disputado alicerce estratégico. O CEO Matheus Diogo Fagundes observa que “a automação inteligente e a inteligência artificial têm revolucionado os processos produtivos ao permitir decisões mais rápidas e baseadas em dados em tempo real”. Ele frisa que estas tecnologias otimizam desde o planejamento até a modelagem e produção, reduzindo erros, desperdícios e retrabalho. Os ganhos mais expressivos, na visão do executivo, incluem “agilidade na entrega, padronização da qualidade, aumento da produtividade e, acima de tudo, crescimento no faturamento”, especialmente em um mercado cada vez mais exigente e voltado à personalização em escala.

Ao comentar sobre os avanços da Indústria 4.0, Fagundes destaca a importância de tecnologias como Internet das Coisas (IoT), machine learning e gêmeos digitais na transformação do setor. “São recursos que conectam máquinas, dados e pessoas em tempo real, ampliando o controle sobre as etapas da cadeia produtiva”, explica. A Audaces, como observa o CEO, já aplica estas soluções em sistemas que monitoram a performance da produção e simulam peças digitalmente antes do corte, promovendo redução de custos, menor uso de matéria-prima e ganhos contínuos em eficiência operacional.
Inovar com visão, escala e colaboração
O cofundador e CTO da Smatex, António Rocha, destaca que os avanços tecnológicos no setor têxtil ainda ocorrem de forma lenta, em grande parte pela dificuldade das empresas em definir prioridades e alocar recursos com clareza. “Para inovar com impacto, é preciso escala, visão e equipes comprometidas”, afirma. O executivo ressalta que inovar não significa necessariamente criar tudo internamente: adotar tecnologias já em desenvolvimento pode ser o caminho mais eficiente. Ele defende a importância de uma “visão partilhada” entre marcas, indústria e investidores, como base para ampliar a inovação e torná-la viável em larga escala.

Rocha também alerta para a necessidade de definir responsáveis claros dentro das equipes e valorizar o tempo como fator estratégico. “Entender o valor do tempo é essencial”, afirma, ao discutir o equilíbrio entre desenvolver soluções internas ou adotar tecnologias prontas. Apostar em dados, agilidade e flexibilidade, segundo o executivo, é inevitável. Para ele, a rastreabilidade está se tornando um elemento-chave. Ao falar sobre o potencial europeu, Rocha afirma: “Portugal tem localização estratégica para responder de forma rápida na Europa”.