Inovação e Produtividade: eixos de transformação no Têxtil e na Confecção
18/07/2025
A busca por inovação e ganhos reais de produtividade são o centro das reflexões do Painel 7 — Investimentos Estratégicos para Aumento de Produtividade — durante o Congresso Internacional Abit 2025, que se realizará nos dias 29 e 30 de outubro, no auditório da Fiesp, em São Paulo.
Três executivos com ampla vivência no setor trarão suas visões sobre os caminhos que as empresas vêm trilhando diante dos desafios estruturais do país e das exigências do mercado global.
Entre os temas em pauta, destaque para o papel decisivo da automação no chão de fábrica, os limites da IA corporativa, a necessidade de mudança cultural e a urgência de uma estratégia clara para transformar inovação em resultados concretos. Esses aspectos revelam que o futuro da competitividade passa, inevitavelmente, por decisões assertivas de investimento.
“Produtividade real está no chão de fábrica, não nas telas”
O consultor alemão Joachim Hensch acredita que muitas empresas estão cometendo um erro estratégico ao concentrarem seus investimentos apenas em inteligência artificial voltada para o ambiente corporativo. “Todos estão focados na ruidosa área da IA, mas o verdadeiro ganho de produtividade acontece no chão de fábrica”, destaca o executivo, que já trabalhou diretamente com a confecção e foi diretor administrativo do Grupo Hugo Boss na Turquia, até o momento que abriu a consultoria.
Para Hensch, embora a tecnologia traga avanços relevantes para os escritórios, a maior parte da força de trabalho — mais de 80% — está na linha de produção, onde robótica e automação são os verdadeiros impulsionadores de eficiência.

O consultor frisa que a automação está transformando a lógica da competitividade global. Países em desenvolvimento ainda apostam em salários baixos como diferencial, mas essa estratégia tende a se esgotar. “Com o aumento da automação, a produtividade por hora nos países com altos salários crescerá tanto que a necessidade de terceirizar a produção será muito menor”, avalia. Segundo ele, a globalização baseada em custos mínimos dá lugar a cadeias de suprimento mais regionalizadas e nacionalizadas, exigindo desenvolvimento tecnológico e capacitação local.
A nova dinâmica, segundo o consultor, já pode ser observada em setores como a complexa indústria automotiva. Na moda, ele cita o modelo da Shein e Temu para ilustrar a transformação. “Estas empresas sabem o que o seu cliente quer e também sabem como produzir para enviar e entregar com agilidade. Elas inverteram o sistema antigo e até oferecem a cadeia de suprimentos como serviço”, afirmou. Para Hensch, o domínio de dados e a agilidade logística se tornaram armas decisivas na nova era da produtividade.
Indústria têxtil aposta em inovação, mas enfrenta desafios estruturais
Marcada pela alta demanda de mão de obra, a indústria têxtil brasileira busca reinventar-se com foco em modernização e ganho de produtividade. Para o diretor executivo da Arrazantty, Renan Wernz Tolotti, empresa catarinense especializada em confecção fitness no modelo private label, a inovação tem sido essencial para reduzir custos e, principalmente, para tornar o setor mais atraente às novas gerações. “O investimento em tecnologia e IA ajuda a tornar ‘sexy’ a indústria têxtil, que por muitos anos avançou em um ritmo diferente dos demais setores”, avalia.
Tolotti também reconhece que ainda há grandes barreiras para que esse movimento ganhe força. Em sua análise, o cenário macroeconômico brasileiro tem gerado um ambiente de insegurança que dificulta o planejamento de longo prazo. “Existe uma cautela generalizada. A crise econômica, política e institucional traz uma desconfiança no futuro que impede projetos mais robustos”, analisa. Mesmo assim, ele acredita na força daqueles que continuam apostando em dias melhores. “Há quem ouse ser diferente, sonhe com um dia melhor. Poético, sim, mas ainda verdadeiro!”, acrescentou.
Sobre o uso de Inteligência Artificial, Tolotti lembra que o tema já foi destaque nos principais eventos do setor, como a NRF. Porém, ele pondera que, embora as empresas reconheçam o potencial da tecnologia, ainda há um caminho a ser percorrido. “Em 2024, na NRF (principal evento mundial do Varejo), falou-se muito em IA como ‘game changer’ do varejo. Já em 2025, o discurso mudou, mostrando que ainda estamos em fase de transição”, disse. Segundo ele, a Arrazantty chegou a contratar uma plataforma de IA para previsão de tendências, mas o mercado não estava pronto para absorver plenamente essa inovação.

Diante deste panorama, o executivo acredita que o avanço tecnológico no setor depende tanto de uma mudança cultural quanto de uma maior clareza estratégica por parte das empresas. Para ele, ao mesmo tempo em que a inovação é vista como uma necessidade, falta preparo — tanto interno quanto externo — para que as soluções adotadas gerem o impacto esperado. “Inovamos e fomos precursores, mas percebemos que nossos clientes ainda não estavam preparados para lidar com esse novo olhar”, finaliza.
Produtividade é tema central para o avanço da indústria têxtil
A escolha do tema do Congresso Internacional da Abit 2025 – A Produtividade como Catalisador do Crescimento e Prosperidade “reflete uma urgência real do setor industrial brasileiro”, segundo o diretor da unidade Senai “Francisco Matarazzo”, Arthur Dias. Ele afirma que o baixo crescimento histórico da produtividade é um dos principais entraves para o avanço econômico do país. “Sem aumento real da produtividade, é impossível elevar o PIB per capita e, consequentemente, investir de forma consistente em saúde, educação e qualidade de vida”, disse.
Para o executivo, a indústria têxtil e de confecção tem se mobilizado diante dos desafios do cenário atual, marcado por incertezas geopolíticas, câmbio volátil, juros elevados e a pesada carga do chamado “Custo Brasil”. Nesse contexto, o aumento da produtividade deixa de ser uma meta desejável para tornar-se uma necessidade de sobrevivência. “O setor tem mostrado reação: há redução na ociosidade, aumento de investimentos e maior procura por incentivos à inovação, como os da Finep”, observou.
Apesar dos avanços, os gargalos ainda são expressivos. A adoção de tecnologias digitais e automatizadas no setor T&C segue em ritmo lento. “A maioria das empresas ainda está longe de aplicar soluções da indústria 4.0 em seus processos produtivos”, avalia Dias. Ele observa que ferramentas como IoT, inteligência artificial e “gêmeos digitais” podem gerar ganhos substanciais em eficiência, mas esbarram na falta de qualificação técnica e investimentos.

Nesse cenário, o Senai “Francisco Matarazzo” tem atuado como ponte entre a indústria e o futuro. A unidade, localizada em São Paulo, oferece soluções educacionais e tecnológicas voltadas à modernização dos processos produtivos e à formação continuada da força de trabalho. “Nosso papel é preparar o chão de fábrica para os desafios atuais, promovendo uma cultura de inovação e excelência operacional em toda a cadeia têxtil e de confecção”, conclui.