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Guilherme Machado: “O nosso principal desafio é conseguir estar no mercado global com maior paridade nos segmentos de moda”

14/10/2019

Euromonitor

 

O analista sênior da Euromonitor leva para o Congresso Internacional Abit 2019, os principais vetores que irão impulsionar a moda no mundo. Mas antes, ele conversou com a nossa equipe e você confere abaixo alguns insights importantes para o setor têxtil, como a importância da pesquisa e outros elementos fundamentais para uma atuação estratégica em mercados mundiais.


Qual é o impacto das novas tecnologias no setor de moda no Brasil e também no mercado internacional?
Em resumo, as novas tecnologias atingem cinco camadas do setor: matérias-primas, estrutura dos parques fabris, estrutura das confecções, inovações no ambiente de varejo e mudanças no comportamento dos consumidores. No Brasil, nota-se novas formas de cultivo de algodão, com o crescimento do produto orgânico e naturalmente colorido. O varejo sai do contexto online/offline para o figital ¬- físico mais digital, utiliza canais de omnichannel, guide shops, venda de mostruários pela internet e inteligência artificial. Há algumas iniciativas em caráter experimental no país, como a dos provadores inteligentes que detectam automaticamente os produtos que entram na cabine de prova, e esses ambientes também possuem telas touch, onde o consumidor já seleciona o produto, sem a necessidade de interação com vendedores. Há também o uso de ferramentas que detectam sentimentos através das reações faciais dos clientes. Consumidores hiperconectados e mais conscientes a partir do uso das mídias digitais, também trazem um novo desafio para as marcas em relação à sua reputação.

Qual é o impacto da tecnologia no mercado de pesquisa de moda? Que tipo de mudança já é uma realidade no dia a dia de quem atua com pesquisa no setor, no Brasil e também em outros países?
O ambiente de pesquisa de moda é muito desafiador no mundo todo. No caso do Brasil, há uma grande fragmentação do ambiente varejista e isso dificulta a pesquisa e o levantamento de dados da indústria. Segundo a Euromonitor, o país é o terceiro maior do mundo em número de lojas especializadas em vestuário e calçado. Estamos atrás somente da Índia e da China. Mas, as tecnologias de rastreabilidade e de consumo online, principalmente, irão ajudar muito no processo de aprofundar conhecimentos sobre o consumidor. Essas inovações precisam amadurecer mais para que tenham um maior impacto no ambiente de informações e de pesquisa.

Como você classifica o posicionamento dos produtos brasileiros de moda no mercado internacional? Quais são as nossas principais vantagens? E quais são os nossos principais desafios?
O Brasil é muito associado a temas de beleza, bem-estar, biodiversidade e sustentabilidade. No campo da moda, nota-se que se destacam abordagens que conversam com essas referências. Os produtos com viés ecológico e/ou sustentável; o uso de fibras vegetais; a produção artesanal e de bordados, e também indígenas; o apoio a comunidades locais, e o reconhecimento do trabalho dos artesãos, estão todos alinhados com o que existe de mais avançado nas discussões globais de moda. E a vantagem da identidade brasileira é que, naturalmente, se conecta com os temas que mais crescem, em relevância, dentro do radar dos consumidores em todo o mundo. Agora, o nosso principal desafio é conseguir estar no mercado global com maior paridade nos segmentos de moda e ocupar um espaço mais proporcional em relação ao potencial da nossa economia. O Brasil está na 9ª posição entre as economias globais e no mercado de vestuário, estamos em 11º lugar.

Na sua visão, quais elementos caracterizam o Brasil quando o assunto é seguir ou criar tendências de moda? Como o país pode ser definido em relação à forma como se utiliza de informações globais para criação ou adequação de seus produtos para o mercado interno e externo?
A primeira imagem do Brasil está associada à moda praia, pela variedade de modelos, estampas e pelo forte apelo da identidade do país. O swimwear brasileiro ocupa a 6ª posição no mercado global. Outros dois segmentos colocam o Brasil em maior destaque: estamos em 5º lugar no mercado mundial de calçados femininos e na 3º posição no mercado mundial de jeans. A utilização de informações globais de mercado nos ajudam a conhecer as nossas forças e agregar esses componentes à identidade do Brasil no mundo, bem como fazer com que outras categorias de produtos correlacionados também usufruam desse mesmo prestígio. A informação nos ajuda a alavancar as forças e trabalhar as vulnerabilidades.

Que conselhos você daria a empresas que buscam abrir portas em um novo mercado? E o que diria que é fundamental para que elas construam uma relação de longo prazo em mercados onde já estão inseridas?
Para desenhar estratégias para oferecer o produto certo, no local certo e com os diferenciais mais impactantes, é preciso considerar uma análise sobre as oscilações de consumo do setor em cada mercado nos últimos 15 anos, como forma de entender o ritmo de crescimento de cada um deles e saber quais estão crescendo e quais estão entrando em estagnação. É preciso verificar quais são as expectativas de crescimento de cada mercado nos próximos cinco anos, para planejar o tempo de retorno de investimento. Realizar estudos sobre os principais grupos do setor no mercado, seus players e competidores globais; e conhecer iniciativas disruptivas na área do varejo. Acompanhar as principais tendências de desenvolvimento demográfico, entender a evolução da pirâmide etária e dos níveis socioeconômicos, bem como o aumento da incidência da obesidade e outros diversos fatores que irão impactar o consumo em geral. Também é importante pensar no consumo em um contexto mais amplo que o de moda, como é o caso de produtos de higiene pessoal e de beleza, indústrias correlatas.

Sobre o painel
O painel “Prepare-se para evolução da indústria de moda e saiba quais tendências já são realidade com impacto no mercado brasileiro”, abre as atividades do evento, no dia 23 de outubro, às 9h e terá como mediador, Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.